Estar vivo pressupõe arriscar. Obrigatoriamente quem corre riscos tem grande chance de errar. Logo, que atire a primeira pedra quem nunca errou. Mas, apesar dessa compreensão básica sobre o erro, vivemos numa sociedade exposta o tempo todo, cada segundo da vida é simultaneamente observado pelas redes sociais. Assim, errar torna-se algo inconcebível, num mundo onde todos parecem perfeitos.

Errar deveria estar associado a um processo natural de aprendizagem, porque não existe aprender sem testar, experimentar, arriscar e consequentemente, falhar. Mas, na maioria das vezes, o erro expõe nossas fraquezas, nossas imperfeições, aquilo que não demos conta de fazer, a nossa incapacidade de fazer o ‘certo’. É o momento da exposição da nossa fragilidade, da nossa humanidade. Isso pode doer e quando dói, não é nada bom. Mas depende do ponto de vista, sempre. Por isso, é melhor viver na fumaça da perfeição. Mas como isso pode ser possível?

Talvez só não erre quem passe a vida dentro de um espaço confortável. Segue padrões conhecidos e se mantém em segurança. Vive à margem da normalidade na sua forma mais ‘morna’ possível. Não esquenta e nem esfria, mantém a média, e este pode ser o melhor lugar. Mas, se olharmos bem, na maioria das vezes este é um modelo perseguido e desejado por muitos. Mas tá errado? Não. A questão mais importante aqui é ter plena consciência das escolhas, ter a compreensão de que elas sejam realmente feitas por você. Já parou pra pensar sobre isso? Quem faz as suas escolhas? Você ou um modelo ‘ideal’ vendido pela mídia e a sociedade de consumo? Este é um ótimo assunto para aprofundarmos numa próxima conversa. Por hora, o importante é ter clareza das nossas decisões e de seus impactos.

Na década de 1980, o cantor e compositor, Kiko Zambianchi, transformou em música uma reflexão sobre os nossos ‘Primeiros Erros’. Mais tarde, em 2000, o grupo Capital Inicial fez multidões entoarem essa música como um hino libertador: “se um dia eu pudesse ver meu passado inteiro e fizesse parar de chover nos primeiros erros, Ah…” Essa música é mesmo libertadora. Traz à tona esse desejo quase mágico, de fazer parar de chover nos nossos primeiros erros. Quem sabe pudéssemos olhar pra eles com mais clareza, sem dor e com maior aceitação. Afinal, somos capazes de valorizar nossos aprendizados, a partir dos nossos erros?

A Dra. Brené Brown, professora e pesquisadora na Universidade de Houston, durante muitos anos estudou e pesquisou sobre a vulnerabilidade, a coragem, a empatia e a vergonha. Segundo ela, os resultados ajudaram a entender com profundidade sobre a vulnerabilidade não ser vista como sinônimo de fraqueza e sim, de coragem. E ainda, pessoas que se defendem a todo custo do erro e do fracasso acabam se frustrando e deixam de ter experiências marcantes que dão significado à vida.

Se na arte, na pesquisa, nos exemplos de vida, conseguimos observar as evidências de que arriscar, é fundamental para encontrarmos nosso caminho e sermos felizes, porque afinal de contas ainda temos esse verdadeiro pavor de errar? Quer um exemplo simples? Procrastinei por anos a exposição da minha escrita. Sabe por quê? Medo. Um medo absurdo de que ela não fosse boa. Medo da avaliação e principalmente, do julgamento das pessoas. O medo da exposição me manteve por anos longe da zona de vulnerabilidade. E o pior ainda, são tantos medos que nos obrigam a não ser quem verdadeiramente gostaríamos de ser, que nos faz ser quem os outros querem que sejamos. Até quando?

Nesse início de ano, fiz um acordo comigo mesma e acordos feitos conosco são os mais difíceis de serem descumpridos. Tem uma lista na porta do armário com 15 itens, e em volta setas apontando e lembrando: “Importante! O que você já fez? Faça, faça!”. Enfim, preciso respirar profundamente diariamente e encontrar a coragem que preciso pra levar essa lista adiante. E você? Como anda a sua lista de acordos pra este ano? Já começou algum item? Uma dica: concentre-se em um de cada vez, isso pode ajudar a dar certo! Mas se der errado, tá tudo bem, a gente começa de novo, só que dessa vez num outro lugar de aprendizado. Certo? 

Sei que falar do erro na teoria pode parecer fácil, mas o ‘bicho pega’ na prática, como muitas coisas na vida. Já deve ter imaginado porque escrevi um texto sobre o medo de errar nessa altura do campeonato, né? Sim. Eu errei e erro. E como erro (rs)! Recentemente uma mensagem no meu whatsapp dizia algo como: “Você fez uma cagada”. Pela palavra usada pode imaginar que não foi um simples erro, pelo menos não pra quem escreveu. Claro que não me orgulho dos meus erros, mas também não sei se faria diferente. Tenho plena consciência de que isso acontece e de que vai acontecer enquanto viver. Minha memória vai falhar, não vou saber tudo que deveria sobre o assunto, vou errar, mas principalmente, vou tentar. E se não der certo, como tantas vezes já não deu, vou sofrer, vou chorar, mas principalmente, vou buscar entender onde foi que eu errei e seguir. Afinal, errar faz parte, mas sabe qual é a melhor parte disso tudo? Olhar pra mim hoje e sentir um orgulho grande de quem eu sou com a compreensão e aceitação de que ainda vou errar muito, mas vou dar o meu melhor, sempre!

Edna Borges – uma mulher que não tem vergonha de errar, mas quer muito acertar, por isso, é feliz com as escolhas que fez e faz todos os dias.

Texto também publicado no site confrariando.com

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