Sábado por aqui é dia de faxina, sempre tivemos um acordo em casa e nos dividimos entre as tarefas domésticas. O tempo passou, cada uma tomou seu rumo, mas o dia de faxina continua. E hoje, enquanto limpava a casa, organizava os cômodos, colocava roupa pra lavar, bateu forte essa sensação de limpeza que tenho feito na minha vida e intensificou-se nos últimos dias. 

Mas essa reflexão não veio do nada, foi graças ao seu Antônio, vendedor de vassouras, que sempre passa por aqui. “Bom dia!”, disse ele com tanta alegria na voz que ainda sinto o seu bem querer, nem me ofereceu pra comprar a vassoura, veio como um anjo negro cheio de paz, me fazendo lembrar do tipo de gente que eu quero por perto. Quero o seu Antônio, o seu João, Pedro, Maria, José, não importa o nome, importa o que essas pessoas trazem no peito e na alma. Aquilo que me invade, faz meu olho brilhar e minha risada saltar, sem nenhum pudor.

Quero limpar de perto gente que não sabe trocar, aquela que só quer tirar, tirar tudo que puder. Gente que suga, suga seu conhecimento, sua experiência, mas não suga sua essência, sua vitalidade, sua alegria. É isso, ninguém tira de você aquilo que te constitui, tua luz, teu brilho, tua intensidade no fazer. Podem até tentar, mas é imitação, não é de verdade, é falso.

Quero longe de mim gente egocêntrica, aquele tipo que a única diferença entre Deus e ela é que Deus não acha que é ela. Gente que sabe tudo, que domina a fala, mas não consegue escutar. Quero por perto gente humilde, aberta pra descobrir, pra aprender, pra errar, é isso, quero gente que não tem medo de dizer que não sabe, mas que quer tentar. 

Quero me livrar de gente que acha que educação se faz sentada na cadeira em frente às intermináveis reuniões de Zoom, Meet ou escambau que seja, feitas em salas de escritórios de decorações impecáveis. Educação se faz no chão da escola por educadores. Educação se faz no processo de escuta dos meninos e meninas sedentos de alguém que simplesmente olhe nos olhos deles, que os vejam, sintam com e por eles nos seus melhores e piores dias. 

Quero por perto gente que frequenta o banheiro das escolas e descobre que em alguns deles não têm porta, tá sem papel e torneiras não funcionam. Que têm salas de aula lotadas, sem ar condicionado, sem internet, sem computadores, com algumas cadeiras quebradas, mas com aqueles profissionais de educação que incansavelmente seguem todos os dias. Eles arregaçam as mangas e trabalham de verdade por uma escola que ofereça as condições mínimas necessárias pra se fazer uma educação pública de qualidade sem nenhuma distinção. 

Sabe como sei disso? Sou cria de escola pública, lugar onde vivi minhas maiores dores e as mais intensas alegrias na infância, adolescência e juventude. Foi onde me apaixonei pela minha primeira professora, a mesma que arrancou toda minha autoestima num único dia. 

Quero somar com quem quer de fato trabalhar por uma educação reflexiva, transformadora e de sentido, mas isso, não pode ser só discurso, tem que ser na prática. Pra fazer sentido tem que sentir e ninguém sente o que não vive. A escola é viva, é movimento, é energia, é mudança diária. A escola é diversa! Quero comigo nessa caminhada gente que respeita a diversidade, a individualidade e a complexidade de uma comunidade escolar.

Educação se faz com respeito ao lugar, a cultura local, as pessoas que frequentam o espaço, ao que cada um sabe, faz e pode contribuir. Educação é entrega, é brilho nos olhos, é coragem de continuar todos os dias, mesmo nos mais nublados, porque sim, vai ser no final desses dias de tempestade que vai chorar sozinho e lembrar da razão dessa escolha. Vai ser naquele abraço silencioso sem nenhuma palavra, mas completamente presente, inteiro, que vai renovar a certeza de que ali é seu lugar e ninguém jamais vai tirar de você todos os abraços silenciosos que te renovaram ao longo dessa trajetória.

Afinal, quer saber quanto espaço essa faxina vai liberar na minha vida? Rsrs.

Muito, mas não é um espaço vazio, olha que demais! Sinto-me recarregada ao colocar as coisas no lugar, ao retirar o que ocupava espaço sem agregar valor, sem reconhecer toda a história percorrida. Porque eu sei da história construída e do caminho percorrido, e isso me dá uma sensação de leveza tão grande e de agradecimento profundo por tanta gente porreta, forte, alegre, capaz, competente e de repleta de vida que cruzei por esse Brasil. Gente que sabe compartilhar, trocar, rir, experimentar, dialogar! 

Sim, são nessas pessoas que eu boto a maior fé, são nelas que me apego, grudo pra continuar aprendendo, evoluindo, transformando com muito respeito às diversas realidades que fazem e trabalham por uma escola pública de qualidade e equidade nesse país. 

Temos muito caminho adiante a ser desbravado com muita coragem e entusiasmo. Seguimos!

Olá, como podemos ajudar?