Entre os 20 e 30 anos temos a ilusão de que os 50, ah…os 50 anos estão longe demais e vai demorar muito, muito tempo pra chegar e mais do que isso, sua vida estará toda resolvida quando finalmente completar 50 anos. Mas afinal, o que significa isso? O que é ter tudo resolvido? O que entra nesse pacote imenso do “tudo”? Poderia citar: casa, família, filhos, dinheiro, carreira, trabalho, amigos, saúde, amor, felicidade, viagens, cachorro…uau, realmente tem uma imensidão de coisas nesse “tudo”. 

Poderíamos acrescentar muito mais, mas é importante destacar uma pequena grande ilusão que temos aos 20 e poucos anos, a de que tudo isso são coisas separadas e que se resolvem de uma forma linear, sistemática, palavra que deveríamos trocar para sistêmica, isso já nos ajudaria e muito durante a vida. Vai por mim… 

Então, vamos começar pelo que imaginei encontrar aos 50 anos. Na minha cabeça era tudo tão fácil, era só seguir um plano que eu nem sei como surgiu, mas ele existia e tinha uma lógica quase que perfeita pra acontecer, que aquela Edna realmente acreditava nessa sequência perfeita das coisas. Bem como, eu deveria estudar, terminar a faculdade aos 22 anos, casar aos 23, ter filhos, sim, sempre no plural, sempre desejei a casa cheia de crianças, pelo menos quatro, rs. Constituir e cuidar da minha família, fazer minha carreira profissional na empresa que comecei a trabalhar como estagiária aos 20 anos, ter uma casa em Minas Gerais com varanda, quintal, muitas plantas e ser feliz.

Parecia tudo tão certo, já estava tudo encaminhado, o resultado desse mapa do tesouro aos 50 deveria ser: encontrar uma mãe perfeita, uma esposa apaixonada, uma profissional bem sucedida, uma dona de casa eficiente, enfim, uma mulher completa. Eu imagino sua cara neste momento, tá rindo né? Já percebeu os erros que podem ocorrer neste plano quase perfeito. Acredite, eu também estou me divertindo ao relatar isso.

Como você já imagina, não foi muito bem assim que a vida seguiu, esqueci de alguns detalhes importantes, como: as mudanças de rota, os erros cometidos, os atalhos, os desejos, esqueci de considerar principalmente como eu queria encontrar comigo mesma aos 50 anos. Eu esqueci de olhar pra mim e confesso que em vários momentos esqueci de cuidar de mim.

Não tem nada mais verdadeiro do que as palavras do poeta espanhol Antônio Machado, no poema Caminhante: “Caminhante não há caminho…caminho se faz ao caminhar”, por mais que você planeje e isso é essencial na vida e para a vida, o caminho se faz enquanto você caminha, por isso tem que se estar atento, as mudanças são inerentes ao processo, elas acontecem naturalmente dentro e fora de você. Se elas não acontecerem, atenção, tem algo muito errado aí. Mais importante do que ser resistente, é preciso ser flexível, resiliente, leve e saber dançar, conforme a música. Acredite, você vai precisar aprender a dançar.

Nessa altura do campeonato você deve estar se perguntando, afinal quem foi a Edna que você encontrou aos 50 anos? Vou descrever algumas.

Uma mãe extremamente orgulhosa das suas três filhas. Mulheres incríveis, autônomas nas suas decisões. Coerentes nas suas escolhas. Guerreiras por natureza. Sensíveis, solidárias, participantes de forma humana, questionadoras e ativas da sociedade em que vivem.

Uma ex-esposa de dois casamentos que duraram o tempo que deveriam durar, que ensinaram o que deveriam ensinar. Relacionamentos de total entrega, de cumplicidade, de muita vontade de dar certo e sim, de que fossem pra vida toda. Mas de novo eu me esqueci de um detalhe, as coisas duram o quanto devem durar e tá tudo bem.

Uma profissional autônoma, crescente no seu processo de aprendizagem, colaborativa, aberta a ampliar e mudar sua trajetória profissional. Atuante de forma a compreender e aprender com aquilo que realmente faz sentido, capaz de mudar um coletivo, de transformar uma comunidade e ajudar de verdade na construção de um lugar muito, mas muito melhor para todos e todas, sem exceção. Nada de carreira empresarial, nada de rotinas previstas e absolutas, muito pelo contrário, a impermanência parece ter sido algo que alimentou minha busca e pode ser talvez aquilo que traz sentido pra essa trajetória mutante.

Entre todas essas Ednas e muitas outras que acho melhor não descrever neste momento…rs, pois tive boas revelações a meu respeito ao longo desses 50 anos, rs… tem a Edna mulher, repleta de uma vontade de viver que nem aos 20 e poucos anos eu sonhava ter. Tem uma alegria absurda e uma energia que parecem ser renovadas diariamente. Tem os pés no chão, um coração acelerado no peito e um monte de ideias nessa cabeça que não para de pensar pra poder colocar em prática. 

Tem também tantas dores curadas, amores desperdiçados, sonhos pela metade e uma certeza de que ainda tem tanta coisa pra fazer, muitas pessoas pra eu ser, porque eu sou muitas. E sabe o que eu aprendi vivendo? Que o tempo que parecia longe, que demorava pra passar, passou rápido demais e hoje eu não me permito desperdiçar nenhum segundo dessa minha metade da vida que vem pela frente. Cada dia é sagrado e único. Viver é realmente um PRESENTE em todos os sentidos. Agradeça e viva.

Entre todos os aprendizados eu preciso lembrar da música Epitáfio do Titãs, só um trechinho, porque neste momento ela faz todo sentido: 

“…Devia ter complicado menos, trabalhado menos

Ter visto o sol se pôr

Devia ter me importado menos com problemas pequenos

Ter morrido de amor

Queria ter aceitado a vida como ela é

A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier…”

E sabe de uma coisa? Eu sinto em te dizer ao final deste texto, que é humanamente impossível descrever exatamente essa Edna que chega aos 50 anos, porque eu ainda tô me fazendo. Eu me sinto inacabada e isso é extremamente libertador, porque eu me permito viver o diferente, o incomum, o estranho, aquilo que eu não tenho nenhuma certeza e muitas dúvidas. Assim, eu me reconstruo, me desafio, me sinto viva, no caminho, e eu tô tão feliz e grata por isso! 

Celebro intensamente a oportunidade de seguir nessa trajetória e de poder me amar. 

Viva os 50 anos que me fizeram até aqui e sejam muito bem-vindos os 50 que ainda me farão. 

Bora seguir! Tem tanta coisa boa pra ver, fazer e experimentar, vem comigo?

Olá, como podemos ajudar?