Desde muito pequena aprendi que as histórias deveriam ter começo, meio e fim. Era assim que a professora orientava nas redações e era exatamente deste jeito que os filmes terminavam, com o famoso ‘The End’. A lógica dessa sequência, sempre fez muito sentido na minha cabeça: como contadora de histórias, buscava cuidar e dar atenção ao famoso ‘felizes para sempre’. Acreditava que isso poderia inspirar e renovar a crença de quem ouvia.
Mas você já parou pra pensar como essa leitura das histórias pode afetar as nossas vidas? Será mesmo que todas as histórias devem ter começo, meio e fim? E quando uma história parece não ter fim, o que acontece com ela? E o que acontece com as histórias que parecem ter fins prematuros? Aquelas que você tem a absoluta certeza de que ainda não chegaram ao fim, mas por algum motivo foram interrompidas.
É exatamente sobre essa história que eu quero falar. Aquela que deixa uma sensação de ter algo a mais pra ser vivido. Aquela que trava seu pensamento ao longo do dia, que o tempo parece ter congelado no exato momento em que ela parou. Talvez você não perceba, mas realmente o tempo parou. Você tem a impressão de que as coisas não evoluem. Tudo gira e volta exatamente naquele exato momento, do fim prematuro.
Tem um incômodo no peito que não passa. Ele se renova e se alimenta todos os dias dessa falta de compreensão do que realmente aconteceu. Então, abre-se um espaço, grande, junto com todas as possibilidades do porque isso aconteceu. Nascem várias teorias e seu cérebro incansavelmente começa a funcionar de um jeito aterrorizador, onde você será o principal culpado.
As perguntas não param de surgir, e lentamente, num interminável ciclo de crueldade, revê cada palavra dita, cada frase escrita, cada momento vivido, na busca do seu erro. Não se espante, é assim que acontece quando se trata do fim prematuro de uma história. O erro só pode ser seu, porque o outro, Ah, o outro, ainda continua sendo, e será por um bom tempo, o par perfeito, a pessoa ideal pra viver essa e muitas outras histórias ao seu lado.
Até que um dia, num reencontro, nessas ‘coincidências’ da vida, você percebe que as histórias realmente não têm fim. Elas apenas são marcadas por ciclos, desses que se renovam, se fecham e recomeçam. E são exatamente nessas passagens de ciclos onde você começa a perceber as coisas de um modo diferente. É como uma ampliação no olhar, uma estranha capacidade de ver o que antes parecia não existir. E, de repente, os dois lados daquela pessoa ficam claros como o sol. Você é capaz de enxergar o bonito e o feio no que antes era todo belo e perfeito. Como não havia visto antes? Ele mudou tanto assim? Ou será que você mudou?
Neste momento as dores criadas por culpas inexistentes ganham um novo significado, tudo passa a ser ressignificado. As culpas não existem. O sentimento de rejeição segue com o vento, deixa espaço, realmente você está mudada. Sente-se mais forte. O universo se abre. Você está leve e livre. Isso é libertador! Você é tomada por uma estranha alegria, a descoberta de poder voltar a respirar sem dor, sem culpa. A vida volta a ter cheiro e sabor novo.
Tem uma felicidade genuína no seu peito. Aquela que nasce no seu corpo, envolve seu ser e retorna pro seu coração. Você está feliz com quem você é agora.
Mas esse então é o fim da história? Definitivamente não. Porque essa é a sua história, impregnada de todos os sentimentos, emoções e aprendizados que outras tantas histórias te trouxeram. Este é mais um ciclo se fechando, mas tem outro sendo aberto e o que virá? Ainda não sei, mas esse é exatamente o momento em que você sorri e segue. E tá tudo bem, não está tudo resolvido e curado ainda, mas está bem adiantado esse processo. Reconheça. Ainda vai doer, mas sem culpa. Ainda vai ser lembrado, mas isso faz parte da sua vida, não tem como não lembrar e pense bem, ainda bem que você viveu tudo isso.
Acho que já tá na hora de viver uma nova história. Bora cuidar do começo e do meio, porque o fim, Ah, o fim. Disso a gente pode voltar a falar numa próxima história.
Crônica feita especialmente para o Blog Confrariando / A cura para sua coceira mental diária